sexta-feira, maio 08, 2009

Pela última vez…

"E se corresse dali, com o vestido nas mãos, as lágrimas borrando os olhos e a boca cheia de mentiras para contar.
Poderia espantar o mundo com a sua nudez descabida, tristeza nos olhos e buraco no coração.
Ou se não quisesse que ninguém soubesse, sairia devagar pela porta de cara lavada e se esconderia na casa de alguma amiga para que ele não a encontrasse se procurasse.
Depois do vinho, amaram-se a noite inteira.
Bocas que percorriam os corpos, olhos que brilhavam cúmplices, suores que umedeciam os lençóis, aromas que invadiam o quarto, suspiros e gemidos que se ouviam longe. A cama batia na parede e eles riam de quem pudesse ouvir.
Ato consumado ele dormia espalhado, tranquilo. Ela tentava chorar baixo no banheiro, com o corpo ainda suado.
Sabia que não devia, mas a vontade era de pular em cima dele e bater com toda força para que nunca mais esquecesse.
Como alguém que poderia machucar quando quisesse seu útero preferia despedaçar seu coração?
Respirou fundo aos soluços, podia acordá-lo e pedir que explicasse. Mas não havia o que falar, estava tudo ali.
Quanta vergonha! Sabia que bilhetes guardados no armário em caixas, lá devem ficar.
Ficou parada olhando aquele corpo nu tão livre bem a sua frente. Observou cada nuance do cabelo, a largura das costas, o torneado das pernas, o formato dos joelhos, o tamanho das mãos.
Quanto mais observava, mais seu coração brincava de bater descompassado entre o ódio da traição e o fascínio da paixão.
Acalmou-se aos poucos, sabia que era capaz de tudo, só não podia perdê-lo. Se ele descobrisse toda aquela cena, a desconfiança, ela sabia que o perderia para sempre.
E se fingisse que aquilo nunca aconteceu?
Se estava guardado era para que ninguém soubesse, talvez nem ele lembrasse, não tivesse importância.
Segurou o choro, acalmou-se aos poucos, arrumou tudo como estava tomando cuidado com o barulho.
Deitou ao lado dele devagar, colocou uma de suas mãos em sua cintura. Ele a encaixou em seu tronco sem abrir os olhos.
Dormiram abraçados, amanheceram com o sol na fresta da janela. Ele ainda embriagado de sono sorria, ela em cima dele o amou pela última vez... "